Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios [Marçal Aquino]
Companhia das Letras 30 de maio de 2012 Aline T.K.M. 9 comentários
Aos que foram leitores vorazes da série Vaga-Lume, o nome Marçal Aquino provavelmente fará lembrar A Turma da Rua Quinze. Fora os títulos infanto-juvenis, o autor escreveu poesia, roteiros de cinema e romances para o público adulto; isso além de atuar no campo do jornalismo. Mas este post é justamente para falar sobre o livro cuja adaptação estreou nos cinemas recentemente: Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios.
O fotógrafo Cauby se recupera de um trauma numa pensão barata, numa cidade do Pará prestes a ser palco de uma nova corrida do ouro. Sua voz é impregnada da experiência de quem aprendeu todas as regras de sobrevivência no submundo – mas não é do ambiente hostil ao seu redor que ele está falando. O motivo de sua descida ao inferno é Lavínia, a misteriosa e sedutora mulher de Ernani, um pastor evangélico.
A trajetória do fotógrafo, dado a premonições e a um humor desencantado, vai sendo explicada por meio de pistas: a história do fotógrafo Chang; o mistério do jornalista local Viktor Laurence,... Mesmo diante de todos os riscos, Cauby decide cumprir seu destino com o fatalismo dos personagens trágicos.
"Nunca acreditei no diabo", diz ele. "Apenas em pessoas seduzidas pelo mal."
Se o título e a capa – linda, por sinal – já atraem atenções, esperem até devorar esta história, página por página, até o último ponto final. Uma história de amor avassaladora e cheia de particularidades nos é contada em primeira pessoa por Cauby. Outras histórias são contadas em paralelo, como por exemplo, a que une o pastor Ernani e Lavínia – esta, o objeto de amor e desejo de Cauby. Ainda, o relato da história do amor platônico vivido pelo careca, hóspede da pensão, entremeia-se muitas vezes com a história de Cauby, mostrando as dimensões e facetas do amor, e as loucuras que só os que o sentem são capazes de cometer.
Mas a cereja do bolo é Lavínia. Misteriosa e sedutora, ela se desdobra em duas: uma mais recatada e, oposta a esta, uma Lavínia selvagem e cheia de volúpia. Revelou-se uma personagem como poucas vezes presenciei nos livros. Ainda que o texto navegue pelo psicológico de Lavínia, uma aura de mistério permanece intocada – o principal atrativo do livro. Em minha modesta opinião de leitora, vejo em Lavínia traços da Capitu machadiana – no que se refere ao aspecto sedutor e à bruma de segredo que as envolve. Livros e mais livros poderiam ser escritos, ainda assim, admitamos, seria impossível penetrar certos cantos da mente, da alma e do coração de Capitu. E foi de forma semelhante que enxerguei a Lavínia de Marçal Aquino.
Palavras sábias são adicionadas através das citações de um tal professor e psiquiatra Benjamim Schianberg. Este “teórico do amor”, que só existe na ficção, expressa verdades de forma tão direta quanto crua em seus livros, cujos trechos Cauby divide com o leitor:
Outros personagens enriquecem a trama. Em todos eles existe um quê de mistério, como se fossem parte de um intrincado jogo de palitinhos – aquele em que ao tocar um palito erroneamente, acabamos por mover todos os restantes. Ainda, e permeando todo o contexto da trama, há o conflito entre uma companhia mineradora e os garimpeiros, fazendo com que o clima de tensão esteja sempre presente na narrativa. Uma tensão geral, que abala a cidade, caminhando em paralelo com as tensões individuais de cada personagem.
Sem mais, seria injusto não concluir de forma imperativa: leiam Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios o quanto antes!
Trailer do filme Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios (direção de Beto Brant e Renato Ciasca, 2011), cujo roteiro é do próprio Marçal Aquino:
O fotógrafo Cauby se recupera de um trauma numa pensão barata, numa cidade do Pará prestes a ser palco de uma nova corrida do ouro. Sua voz é impregnada da experiência de quem aprendeu todas as regras de sobrevivência no submundo – mas não é do ambiente hostil ao seu redor que ele está falando. O motivo de sua descida ao inferno é Lavínia, a misteriosa e sedutora mulher de Ernani, um pastor evangélico.
A trajetória do fotógrafo, dado a premonições e a um humor desencantado, vai sendo explicada por meio de pistas: a história do fotógrafo Chang; o mistério do jornalista local Viktor Laurence,... Mesmo diante de todos os riscos, Cauby decide cumprir seu destino com o fatalismo dos personagens trágicos.
"Nunca acreditei no diabo", diz ele. "Apenas em pessoas seduzidas pelo mal."
Se o título e a capa – linda, por sinal – já atraem atenções, esperem até devorar esta história, página por página, até o último ponto final. Uma história de amor avassaladora e cheia de particularidades nos é contada em primeira pessoa por Cauby. Outras histórias são contadas em paralelo, como por exemplo, a que une o pastor Ernani e Lavínia – esta, o objeto de amor e desejo de Cauby. Ainda, o relato da história do amor platônico vivido pelo careca, hóspede da pensão, entremeia-se muitas vezes com a história de Cauby, mostrando as dimensões e facetas do amor, e as loucuras que só os que o sentem são capazes de cometer.
Mas a cereja do bolo é Lavínia. Misteriosa e sedutora, ela se desdobra em duas: uma mais recatada e, oposta a esta, uma Lavínia selvagem e cheia de volúpia. Revelou-se uma personagem como poucas vezes presenciei nos livros. Ainda que o texto navegue pelo psicológico de Lavínia, uma aura de mistério permanece intocada – o principal atrativo do livro. Em minha modesta opinião de leitora, vejo em Lavínia traços da Capitu machadiana – no que se refere ao aspecto sedutor e à bruma de segredo que as envolve. Livros e mais livros poderiam ser escritos, ainda assim, admitamos, seria impossível penetrar certos cantos da mente, da alma e do coração de Capitu. E foi de forma semelhante que enxerguei a Lavínia de Marçal Aquino.
Palavras sábias são adicionadas através das citações de um tal professor e psiquiatra Benjamim Schianberg. Este “teórico do amor”, que só existe na ficção, expressa verdades de forma tão direta quanto crua em seus livros, cujos trechos Cauby divide com o leitor:
O professor Benjamim Schianberg, o homem que dizia ocupar-se das “fezes da alma”, escreveu que nos alimentamos tanto do bem quanto do mórbido. No meio disso, ele assunta, existe a poesia.
(Curiosidade: o personagem foi objeto de inspiração para o filme “O Amor Segundo B. Schianberg” - direção de Beto Brant, Brasil, 2009.)Página de abertura da primeira parte da história (Imagem: blog prascucuias.com.br) |
Sem mais, seria injusto não concluir de forma imperativa: leiam Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios o quanto antes!
Trailer do filme Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios (direção de Beto Brant e Renato Ciasca, 2011), cujo roteiro é do próprio Marçal Aquino:
Título / Título original: Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios
Autor(a): Marçal Aquino
Editora: Companhia das Letras
Edição: 2011
Ano da obra: 2005
Páginas: 232