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Quote da quinzena #5

À la française 31 de março de 2014 Aline T.K.M. Nenhum comentário


Não estava seguro de que era bom para a saúde, as embalagens não deviam ser biodegradáveis, mas era simples, pouco caro, muito calórico e de sabor tranquilizante. O gosto lhe dava a impressão de encontrar uma família sem fronteiras, de reunir-se aos milhões de pessoas mastigando no mesmo instante um sanduíche idêntico. Como em uma coreografia internacional, ele executava os mesmos passos e gestos de pagar, de transportar o prato, de beber a Coca e de ingerir as batatas fritas e o sanduíche que outros bailarinos-consumidores em templos exatamente semelhantes. Ele sentiu certo prazer, uma confiança, uma força nova em ser como os outros, com os outros.

[...] A meu ver, a grande divisão do mundo, bem, à parte todo esse negócio de classes sociais, a grande divisão do mundo é entre os que vão às festas e os que não vão. E esta divisão da humanidade, que data da época do colégio, persiste toda a vida sob outras formas.
- Eu não era convidado para as festas.
- Eu tampouco. Eles tinham medo, porque eu dizia o que pensava e eu pensava muito mal dos meus colegas. Eu detestava quase todo o mundo. Era genial. Mas agora, porque perceberam como nós somos fantásticos, eles querem convidar-nos para as festas de adultos, e fazer de conta que nada aconteceu, como se tudo estivesse esquecido. Mas não, nós não iremos.

Como me tornei estúpido, de Martin Page.



Federico em sua sacada [Carlos Fuentes]

Carlos Fuentes 28 de março de 2014 Aline T.K.M. 8 comentários


Gosto – e por vezes preciso – de leituras que me desafiem. Lanço-me, aqui, à peripécia de expor minhas impressões a respeito de um livro que, me arrisco a dizer, com certeza terá sido o mais peculiar que li este ano. Falo de Federico em sua sacada, livro concluído pouco antes da morte do autor, o mexicano Carlos Fuentes.

Eis que surge Federico Nietzsche, em dias contemporâneos, na sacada vizinha à sua no Hotel Metropol. Com suas “grossas sobrancelhas” e “uns bigodes longos e bastos”. Os dois homens – o narrador e Federico – engatam uma conversa que toma rumos filosóficos; a partir de então uma trama é criada, personagens entram e saem dentro do contexto de uma revolução. Em paralelo, as ideias nietzschianas vão sendo reveladas e geram reflexão quando os dois senhores interrogam-se um ao outro do alto de suas sacadas.

Pelo menos, sabe se Deus morreu? – concluiu antes de retirar-se da sacada. – O que você sabe?
Nada. Qual o seu nome?
Federico. Federico Nietzsche.

A prosa deliciosa de Fuentes traz conteúdo repleto de sutilezas, diálogos ardilosos e questões às quais nós, leitores, muitas vezes não saberíamos responder. Tudo aqui é adubo para reflexões e a subjetividade está presente aos montes; a releitura imediata de alguns trechos provavelmente se fará necessária – e, acreditem, não deve deixar de ser feita.

Um narrador – o próprio Carlos Fuentes? – e Federico (Nietzsche). E mais o quê? Aí entram em cena personagens muito alegóricos, que protagonizam fatos contados pelos dois homens, “ilustrando” reflexões a respeito de conceitos como: a justiça, a autoridade, a liberdade, o poder (e a vontade de poder), o eterno retorno de tudo... O pano de fundo: uma revolução do povo que segue por rumos atrozes e autoritários.

Dois irmãos de família aristocrata, muito diferentes entre si, cujo único elo parece ser uma mulher (filha de uma famosa atriz já falecida) que almeja uma vida a três com os irmãos – mas livre do carnal e centrada no racional e no diálogo entre os três. Saúl Mendés-Renania, um revolucionário que apresenta estigmas como feridas abertas pelo corpo, que tem uma ex-freira como companheira. Uma menina violentada pela família; um advogado que se junta aos revolucionários; um criminoso acusado de estuprar meninas; um velho doente no sótão; uma prostituta hermafrodita. Uma assembleia que pode ser um tanto traiçoeira. A cabeça do presidente cravada numa lança passeando pelas ruas.

Todos os personagens têm suas vidas interligadas e se afetam entre si. Já na sacada, o narrador se mescla ao seu interlocutor: muitas vezes não se pode distinguir o autor de cada fala. Pouco importa, pois a discussão das ideias é o que possui verdadeira dimensão no jogo complexo que é a leitura desse livro.

Federico em sua sacada é daqueles livros que fazem coçar os neurônios. Mas cuja leitura requer calma e um local livre de interrupções para que seja devidamente aproveitada.

LEIA PORQUE...
Interessante e desafiador, cheio de trechos dignos de serem anotados. Melhor ainda (embora não restritivo) para os que já leram ou conhecem algo das ideias de Nietzsche.

DA EXPERIÊNCIA...
Não é um livro de digestão automática, e por isso mesmo me agradou. Apesar de nunca (ainda) ter lido Nietzsche, ouvi bastante sobre ele nos anos de faculdade e o livro fez com que me interessasse novamente em buscar alguns de seus textos para uma possível futura leitura.

FEZ PENSAR EM...
Filosofia é um troço complicado, mas muito interessante. Vira e mexe dou uma espiada rápida naquele livro chamado O Livro da Filosofia, sabe aquele de capa amarela?! Algum dia ainda pretendo lê-lo...

Título: Federico em sua sacada
Título original: Federico en su balcón
Autor(a): Carlos Fuentes
Tradução: Carlos Nougué
Editora: Rocco
Edição: 2013
Ano da obra: 2012
Páginas: 316
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Amazon (edição Kindle) | Livraria Cultura (e-book)

Curta-metragem: “Invocation”

Curta-metragem 26 de março de 2014 Aline T.K.M. Nenhum comentário

Talvez o meu diretor de curtas preferido, o inglês Robert Morgan dirigiu um curta pelo qual fiquei obcecada desde o instante em que o vi no festival de curtas em Clermont-Ferrand, um filminho especial chamado Bobby Yeah (prometo postá-lo um dia). Os filmes dele são bem peculiares, geralmente de suspense/horror, repletos de criaturas nojentas.

Este abaixo, intitulado Invocation, não foge à regra. Um sujeito que faz stop-motion é pego de surpresa por seu objeto de trabalho, a criação voltando-se contra o criador.

http://youtu.be/TjP0g8dKsoU
Título: Invocation
Direção: Robert Morgan

Minha Querida Sputnik [Haruki Murakami]

Alfaguara 24 de março de 2014 Aline T.K.M. 4 comentários

Sumire ao telefone com K. (imagem daqui)

Murakami nos presenteia com sua prosa envolvente em uma história de amor e de solidão, em que pitadas do fantástico dão sabor de mistério ao conjunto.

K., o narrador, é um jovem professor platonicamente apaixonado por Sumire. 22 anos, aspirante a escritora e fã de Kerouac, Sumire – “Violeta” em japonês – usa meias que não combinam e anda sempre despenteada. Conhecerá o significado de estar apaixonada ao conhecer Miu, empresária no ramo de importação de vinhos e dezessete anos mais velha, que a chama para ser sua assistente pessoal e a leva em suas viagens de negócios. Em uma ilha na Grécia, porém, Sumire encontra o inesperado e somente K. poderá salvá-la.

No instante em que Miu tocou em seu cabelo, Sumire se apaixonou, como se estivesse atravessando um campo e, bang!, um raio caísse direto em sua cabeça. Algo parecido com uma revelação artística. Foi por isso que, a essa altura, não tinha importância para ela que a pessoa por quem se apaixonasse fosse uma mulher.

Um triângulo amoroso tão fora do usual quanto incerto é o que o leitor encontra logo de cara em Minha Querida Sputnik. Em paralelo aos efeitos avassaladores da paixão, caminham as inseguranças e a falta de experiência juvenis.

Ainda, algumas questões existenciais acometem os três protagonistas. Eventos inexplicáveis do passado deixam sequelas importantes e uma solidão praticamente invencível domina a vida presente. As existências de K., Sumire e Miu se esbarram e deixam marcas umas nas outras; contudo, não podem evitar o sentimento de se estar só, tal como um satélite que orbita avulso na imensidão do espaço.

Embora uma década separe este romance da aclamada trilogia 1Q84, algumas semelhanças não podem deixar de ser notadas. Música clássica, gatos e família ausente e/ou problemática são características marcantes nas duas obras. Sem esquecer a solidão, o mistério para além do real e as dualidades – quase tudo ganha caráter duplo nas histórias –, que são grandes atrativos dos livros do autor japonês.

K. é quem narra os fatos em primeira pessoa e é muito interessante a maneira como fala com propriedade de Sumire, sua amada. Como se a conhecesse melhor do que ela mesma, ele nos revela cada canto obscuro de Sumire; podemos sentir quase na pele, no entanto, a frustração de K. ao se deparar com territórios até então desconhecidos na vida da garota.

Miu é, talvez, a personagem mais instigante da trama. Misteriosa e cheia de barreiras, a mulher guarda segredos que impõem um desafio à compreensão – até dela mesma.

Poético e introspectivo, Minha Querida Sputnik é como um pedido de socorro, quase uma súplica por respostas. É o grito silencioso de Sumire, K. e Miu que, de tão desesperado, é lançado a esmo como uma garrafa transportando uma mensagem em alto-mar, sem saber a quem se dirigir ou que rumo tomar.

LEIA PORQUE...
Certamente não vai passar batido entre os que curtem personagens complexos – e mergulhos no âmago de cada um deles. Sem falar que o texto envolve e seduz a todo momento.

DA EXPERIÊNCIA...
Mais uma vez, me apaixonei pela narrativa do autor. E fiz as pazes com o sentimento de frustração que tive com o final de 1Q84.

FEZ PENSAR EM...
Gatos, livros e sebos. Não necessariamente nessa ordem.

Título: Minha Querida Sputnik
Título original: Sputnik Sweetheart
Autor(a): Haruki Murakami
Tradução: Ana Luiza Dantas Borges
Editora: Alfaguara
Edição: 2008
Ano da obra: 2001
Páginas: 229
Onde comprar: Americanas.com | Livraria Cultura | Livraria Cultura (e-book)

Vídeo-review: Cowabunga! [Ana Paula Seixlack]

Ana Paula Seixlack 21 de março de 2014 Aline T.K.M. 11 comentários

Estou de volta com mais um vídeo-review!

Cowabunga! – Desventuras de um ex-surfista, da brasileira Ana Paula Seixlack, me surpreendeu. De forma positiva, adianto. Mais uma prova de que a literatura brazuca está cheia de coisa boa que a gente ainda não conhece.

A trama gira em torno de um ex-surfista que não aceita que os anos de juventude ficaram lá atrás. Vive acorrentado ao passado e precisa – urgentemente – que sua ficha caia para que passe a viver o presente de maneira plena.

Em tempo: o aspecto “pré-adolescente” se restringe somente ao título e, quem sabe, à capa. O conteúdo e algumas reflexões proporcionadas pela história tendem a agradar mais aos adultos mesmo.

http://youtu.be/xGhEMM34qHs
Tocou no vídeo: Barbara Ann – The Beach Boys



Título/Título original: Cowabunga! – Desventuras de um ex-surfista
Autor(a): Ana Paula Seixlack
Editora: Benvirá
Edição: 2014
Ano da obra: 2013
Páginas: 160
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Livraria Cultura | Livraria Cultura (e-book)

Em cartaz: Um episódio na vida de um catador de ferro-velho

Danis Tanovic 20 de março de 2014 Aline T.K.M. 2 comentários


Do bósnio Danis Tanovic (que dirigiu Terra de Ninguém em 2001), Um episódio na vida de um catador de ferro-velho se situa entre o drama e o documentário, e não é de todo novidade por aqui: o longa metragem foi destaque no Indie Festival 2013 em São Paulo e Belo Horizonte.

Interpretando a si mesma, a família Mujic revive um episódio de suas próprias vidas. De origem cigana e muito humilde, os Mujic vivem na periferia, na Bósnia e Herzegovina. Nazif (Nazif Mujic), o pai, recolhe sucata e desmancha carros para dar o sustento à família. Senada (Senada Alimanovic), a esposa, cuida da casa e das duas filhas pequenas do casal. Grávida, Senada é surpreendida com uma forte dor; na clínica mais próxima – cujo acesso só foi possível com um carro emprestado –, o parecer: o bebê está morto, o estado da mulher é crítico e precisa de uma cirurgia o quanto antes. Porém, a família não possui seguro de saúde e tampouco tem condições para arcar com as despesas médicas.

“Um episódio na vida de um catador de ferro-velho”: sem excessos, misto de documentário e drama mostra difícil situação de família cigana

Não foi à toa que o filme levou o Grande Prêmio do Júri e Nazif Mujic, interpretando a si mesmo, foi premiado com o Urso de Prata de melhor ator no Festival de Berlim 2013. A mensagem é clara e está lá para os que se propõem a enxergá-la.

A austeridade do todo e o entorno desolador, em que quase tudo se resume à neve que cobre o solo, falam por si só. A coloração de tons frios domina a tela; tudo parece impregnado de um ligeiro encardido, tal como as poças lamacentas maculam a brancura da neve. A usina nuclear – em plena atividade – vista da estrada nas idas e vindas da família é uma lembrança de que, apesar dos sofrimentos individuais, a vida não para e os grandes não têm olhos para as minorias.

A partir do ambiente em que se insere a família Mujic compreendemos o que não é necessário que seja dito em palavras. A tristeza, e mesmo o desespero, nos são transmitidos no plano visual, mas também a partir dos fatos e das percepções, tornando desnecessários quaisquer excessos ou amostras de drama gratuito. Trunfo do longa, os eventos retratados não portam adornos. A triste situação dos Mujic é mostrada com limpidez, cabendo ao espectador adicionar a carga emocional às próprias reflexões geradas pela história.

Um episódio na vida de um catador de ferro-velho traz a luta pela sobrevivência e dignidade em combate permanente com a resignação forçada dos que não possuem outra saída. Como uma fotografia da realidade desigual, aos olhos da grande maioria, o episódio de um desfavorecido não passa disso: somente mais um episódio entre tantos outros, completamente esquecido no dia seguinte.



NOTA: 8,5/10
ESTREIA: 21/03

Um episódio na vida de um catador de ferro-velho (Epizoda U Zivotu Beraca Zeljeza / An Episode In The Life Of An Iron Picker) – 75 min.
Bósnia e Herzegovina, França, Eslovênia, Itália – 2013
Direção: Danis Tanovic
Roteiro: Danis Tanovic
Elenco: Nazif Mujic, Senada Alimanovic, Semsa Mujic, Sandra Mujic

Chez le Libraire : Gatsby le Magnifique, de F. Scott Fitzgerald

À la française 19 de março de 2014 Aline T.K.M. 2 comentários


Faz um tempão que não trago dicas de leitura em francês! Para quebrar o jejum, nada melhor que um clássico do século XX; um livro cuja leitura me foi inspiradora e que recomendo assim, sem pensar duas vezes, a todo ser humano que se sinta minimamente atraído pelas palavras.

O Grande Gatsby, claro. Aliás, já postei review dele aqui no blog.

Só que o lance agora é encará-lo em francês: Gatsby le Magnifique. Título charmoso, já gostei. E, escrevendo aqui o post, até bateu vontade de comprar uma edição francesa – em e-book sai muito em conta, ridículo de barato.

GATSBY LE MAGNIFIQUE, de F. Scott Fitzgerald, Gallimard (Collection Folio nº 5338).
Onde comprar: Livraria Cultura | Livraria Cultura (e-book)
RÉSUMÉ : L'Amérique des années 20 : c'est l'époque de la prohibition et des fortunes rapides. Jay Gatz surnommé Gatsby est fabuleusement riche. Les rumeurs les plus folles circulent à son sujet. Qu'importe, dans sa somptueuse propriété à Long Islang, Gatsby le Magnifique organise des réceptions durant lesquelles les gens chics et moins chics dansent et boivent jusqu'à plus soif.

Mais qui est ce Gatsby ? D'où vient-il ? D'où tient-il sa fortune ? Pourquoi tient-il tant à séduire la belle Daisy mariée à un millionnaire, Tom Buchanan ? Un homme, un seul, Nick Carraway le cousin de Daisy, connaît la véritable histoire de Gatsby le Magnifique.

Avec ce texte devenu un classique, Fitzgerald, sur un air de jazz et une coupe de champagne à la main, met à nu le Rêve américain et écrit l’un des plus beaux romans du XXe siècle.

O Gato do Rabino – vol. 3: O Êxodo [Joann Sfar]

À la française 17 de março de 2014 Aline T.K.M. 4 comentários


Em O Êxodo, terceiro volume da série em HQ O Gato do Rabino, assistimos ao casamento da jovem Zlabya e acompanhamos o casal em sua lua de mel em Paris. O velho rabino, pai da moça, também os acompanha, além do gato falante (que ainda não recuperou o poder da fala).

Repleta de contratempos, a estada em Paris não poderia ser mais divertida. Pelo menos para nós, leitores. Já os personagens vivem consideráveis momentos de dúvida e até angústia, a começar pelo velho rabino, que se recusa a ficar hospedado na casa dos pais do genro. Só que, ao mesmo tempo, é complicado para o rabino dirigir-se a um hotel e jantar em um restaurante em pleno Shabat judaico – sábado, dia de descanso judaico em que várias atividades são proibidas de ser realizadas ao longo de todo o período. Transgredir as regras acaba sendo a única opção do velho.

Zlabya não pode se impedir de comparar-se às francesas, e isso a deixa angustiada. Já o gato, bom, este arranja um companheiro com quem conversar: um cachorro bem simpático, que não cessa de abanar o rabinho – o que deixa o felino um tanto intrigado.

O Êxodo é, até o momento, o mais cômico de todos os volumes da série. Desde a estupefação do velho rabino com Paris, cujos habitantes, coitados, nem ao menos se encontram próximos ao mar; até as aventuras e conversas do gato e do cachorro – dupla infalível.

Ainda, vale a pena atentar para as reflexões do rabino quanto aos judeus com os quais ele se depara em Paris, que parecem diferentes do que ele está acostumado. Reflexões que o acompanham e se tornam ainda mais importantes ao agir de maneira contrária às regras do Shabat, fazendo com que questione alguns conceitos da religião.

Humor, profundidade e ironia são entregues ao leitor na forma de um texto cheio de significado – sem jamais abandonar a simplicidade – e através de desenhos cujos traços exibem beleza e mesmo sensualidade.

Terminar o volume já ansiando pelo próximo é destino certeiro dos leitores.

LI EM FRANCÊS


Da mesma forma que o primeiro e segundo volumes da série, este também traz leitura simples. Indico sem medo para os intermediários/avançados, que leem bem sem precisar recorrer ao dicionário o tempo todo.

Edição lida: Le Chat du Rabbin – 3. L’Exode, de Joann Sfar, Dargaud (collection Poisson Pilote), 2003.
Comprar em francês: Livraria Cultura
LEIA PORQUE...
A série continua genial, as ilustrações são belíssimas e os personagens são engraçados e, ao mesmo tempo, se dedicam seriamente à reflexão. Além de que foi bem divertido ver os personagens em Paris.

DA EXPERIÊNCIA...
Foi o melhor volume da série até agora! Fiquei com a empolgação renovada para ler os próximos. O único “porém” é que para continuar lendo a série devo esperar que a biblioteca adquira os próximos volumes, ou então comprá-los importados eu mesma. No Brasil, até onde sei, a série parou de ser editada no terceiro volume.

FEZ PENSAR EM...
Paris nas histórias. É incrível como, mesmo sendo cenário batido em muitas tramas, sempre são reveladas facetas diferentes da capital francesa.



Título: O Gato do Rabino – vol. 3: O Êxodo
Título original: Le Chat du Rabbin – 3. L’Exode
Autor(a): Joann Sfar, (colorido por) Brigitte Findakly
Tradução: André Telles
Editora: Zahar
Edição: 2006
Ano da obra: 2003
Páginas: 48

PROMOÇÃO: Convergente

Sorteios e concursos 15 de março de 2014 Aline T.K.M. 48 comentários


Surpresa: sorteio de Convergente, volume final da trilogia Divergente, da americana Veronica Roth. A primeira parte da adaptação da série entrará em cartaz em abril, no Brasil.

PARA PARTICIPAR:
Residir no Brasil.
Preencher o formulário Rafflecopter com a primeira entrada (obrigatória). As demais entradas são opcionais e oferecem chances adicionais.

FORMULÁRIO:
a Rafflecopter giveaway
IMPORTANTE:
- Para concorrer, é necessário ter um endereço no Brasil.
- Serão aceitas participações até 15/04/2014.
- O resultado será publicado neste mesmo post.
- Logo da publicação do resultado, enviarei um e-mail ao sorteado(a), que deverá ser respondido em até 3 dias. Não havendo resposta dentro do prazo, será feito um novo sorteio.
- O prêmio será enviado dentro do prazo de 30 dias, contados a partir do recebimento dos dados da pessoa sorteada.

Quote da quinzena #4

Literatura brasileira 14 de março de 2014 Aline T.K.M. Nenhum comentário


Três quotes contendo os ensinamentos do fictício professor Schianberg em Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios - livro excepcional.

De acordo com o professor Schianberg, o desejo de se apossar por completo do outro é uma das doenças mais comuns do amor. É o resfriado das moléstias amorosas, segundo ele. O problema, Schianberg escreveu, é permitir que se transforme em gripe crônica. Costuma ser letal.

Lavínia estava tão próxima que seu braço roçou no meu. Uma descarga elétrica. A fase das fagulhas, como diz mestre Schianberg em seu livro. O momento em que os amantes têm a certeza de que algo vai acontecer em breve para saciar a fome que sentem, e saboreiam a espera, muitas vezes prolongando-a. Choques não são incomuns nessa etapa, sustenta Schianberg.

De acordo com o professor Schianberg, a vida da maioria das pessoas é medíocre, o que não as impede de enxergar tudo numa perspectiva heroica. Suportamos a existência tentando converter o banal em épico.

Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Marçal Aquino.



Águas-fortes cariocas [Roberto Arlt]

Literatura latino-americana 12 de março de 2014 Aline T.K.M. 5 comentários

Ônibus “jacaré” na Av. Atlântica, em Copacabana, nos anos 30. A imagem é daqui.

No início de 1930, o escritor Roberto Arlt, que publicava uma coluna diária de crônicas no jornal argentino El Mundo desde 1928, teve a oportunidade de viajar pela América do Sul escrevendo notas de viagem. Na coluna, mais conhecida por Aguafuertes porteñas – referência à água-forte, gravura feita através da corrosão provocada por ácido sobre uma placa de metal –, Arlt comentava o cotidiano com absoluta franqueza, utilizando gírias e expressões das classes mais baixas.

Publicadas entre 2 de abril e 29 de maio de 1930, as crônicas que compõem Águas-fortes cariocas foram produzidas por Arlt durante o período em que passou no Rio de Janeiro.

Em primeira pessoa, o autor fala sem comedimento nem receio de condenar; apenas descreve a realidade tal como a vê, fazendo das crônicas do livro um retrato interessante do Rio de Janeiro do início do século XX. O olhar portenho acaba sendo um diferencial, ganha em apuração e consegue ser menos “viciado” – e provavelmente mais imparcial – justamente por não ser nativo.


5 motivos para ler Julio Cortázar

5 motivos para ler 10 de março de 2014 Aline T.K.M. 8 comentários


“Nos livros de Cortázar joga o autor, joga o narrador, jogam os personagens e joga o leitor, obrigado a tal pelas armadilhas endiabradas que o espreitam no virar da página menos provável.”
Mario Vargas Llosa



Julio Cortázar nasceu na Bélgica em 1914, e foi para a Argentina aos quatro anos de idade. Filho de pai diplomata, após o divórcio dos pais foi criado pela mãe, pela avó e por uma tia. Formado Professor em Letras, publicou o conto “Casa tomada” na revista Anales de Buenos Aires, por intermédio de Jorge Luis Borges. O conto também está presente no livro Bestiário.

Mudou-se para Paris em 1951, por não concordar com a ditadura em seu país. Demonstrava opiniões fortes em relação à política na América Latina, cutucando repetidamente o governo autoritário. Pouco antes de sua morte, obteve nacionalidade francesa.

Cortázar morreu em 1984, em Paris, vítima de leucemia*, mas já vinha sofrendo de depressão e tinha saúde frágil. Seu corpo foi enterrado no cemitério de Montparnasse, na mesma tumba de sua última esposa.

Julio Cortázar ainda é venerado por muitos, embora também seja motivo de discórdia entre os críticos argentinos – muitos classificam sua obra como sendo ultrapassada e composta de “fórmulas prontas”.

Discussões à parte, e pegando carona na comemoração dos 100 anos de seu nascimento, listo a seguir 5 motivos para ler este que é tido por muitos como um dos escritores mais originais de seu tempo:

1. Cortázar é considerado um verdadeiro mestre da narrativa curta e sua obra é comparável a nada menos que Poe e Tchekhov.

2. Aliás, falando em Poe, Julio Cortázar traduziu toda a obra em prosa do escritor americano. O trabalho é, ainda hoje, tido como a melhor tradução em espanhol de Edgar Allan Poe.

3. Inspirador de cineastas, o escritor teve vários de seus contos levados ao cinema. Blow up, do Antonioni, foi baseado no conto “As Babas do Diabo”; Week-end, do Godard, foi baseado em “A autoestrada do Sul”; o brazuca A Hora Mágica, dirigido por Guilherme de Almeida Prado, foi baseado no conto “Troca de luzes”; o curta La Fin du Jeu, de Renaud Walter, foi baseado em “Final do jogo”; o também brasileiro Jogo Subterrâneo, dirigido por Roberto Gervitz, foi baseado no conto “Manuscrito achado num bolso”. Enfim, são tantos que daria assunto para um post à parte.

4. Com personagens psicologicamente profundos e narrativa não linear, Cortázar contribuiu para uma verdadeira reinvenção da literatura latino-americana, fugindo do tradicional e explorando vias surrealistas. O real e o impossível se fundem em seus textos, e provocam o leitor de maneira cruel e deliciosa.

5. Além de ter uma praça com seu nome em Buenos Aires, também em Paris ganhou uma homenagem: a pracinha no extremo ocidental da Île Saint-Louis – local onde se passa o conto “As Babas do Diabo” – recebeu oficialmente o nome de “Plaza Julio Cortázar” em 2007. “As Babas do Diabo” faz parte do livro As Armas Secretas.

PRINCIPAIS OBRAS:
Bestiário (1951)
As Armas Secretas (1959)
Histórias de Cronópios e de Famas (1962)
O Jogo da Amarelinha (1963)
Todos os Fogos o Fogo (1966)
A Volta ao Dia em 80 Mundos (1967)
Último Round (1969)


*A escritora e jornalista Cristina Peri Rossi, que foi amiga de Cortázar, declarou em entrevista para o jornal “Clarín” que o escritor teria morrido de Aids (ainda não identificada na época) e não de leucemia, como se especulava. (Fonte: O Globo)


(Pseudo) Caixa do Correio – fevereiro 2014

Companhia das Letras 8 de março de 2014 Aline T.K.M. 6 comentários


Dei canseira no carteiro este mês! Livros de parceria, livros que ganhei em evento e promoções, uma encomendinha internacional muito esperada, e trocas no sebo – finalmente!

Também aproveito para explicar o porquê de ter aparecido resenha de filme aqui no Livro Lab.

http://youtu.be/aE7LHbXLP-k

Tocou no vídeo: Raise your fist in the air – Doro


Em cartaz: Eles voltam

Em cartaz 7 de março de 2014 Aline T.K.M. 5 comentários


Ganhador dos prêmios – muito merecidos – de melhor filme, melhor atriz e melhor atriz coadjuvante no Festival de Brasília de 2012, Eles voltam arrebata o espectador com uma trama intimista, que traz à tona a temática da desigualdade entre as classes.

Deixados à beira da estrada como castigo após uma briga, Cris (Maria Luiza Tavares) e seu irmão mais velho, Peu (Georgio Kokkosi), aguardam a volta dos pais. O que os jovens acharam que seria apenas um “susto” acaba se transformando em uma longa espera. Até que Peu decide procurar por um posto e obriga a irmã a esperar por ele ali mesmo, no ponto em que foram deixados. Sem sinal do irmão, Cris começa a trilhar seu caminho de volta para casa.

“Eles voltam”: com sensibilidade, garota descobre realidade fora de seu mundinho de classe média

Os silêncios, aqui, dizem muito. Os diálogos tampouco vêm de maneira gratuita; têm um porquê, uma razão de ser. E nessa quietude, misto de receio e descoberta, uma garota de doze anos sai da bolha que envolve seu mundo de menina de classe média da capital pernambucana, e passa a ver com os próprios olhos outras realidades bem diferentes da sua, em uma sucessão de encontros improváveis.

Mãos estendidas. É o que Cris encontra quando se vê completamente sozinha, perdida. É alimentada e hospedada por pessoas que mal têm um teto para si próprias, que enfrentam conflitos devido à condição de sem-terra ou que simplesmente são donas de uma vida humilde e sem grandes perspectivas.

O vislumbre dessas vidas ganha primor com a presença de pessoas reais. A opção do diretor Marcelo Lordello por não atores nos papéis de destaque foi tão acertada como também essencial. A singeleza complementa de maneira ideal a sensibilidade da trama, que reina absoluta e que para isso não precisa de excessos.

Eles voltam é todo sensações. Desde a menina que amplia seu olhar e cresce por dentro, cujas mãos nuas tocam o chão de terra e folhas ressecadas enquanto divide palavras tímidas com a garota de mundo tão diferente do seu; até os contrastes, brutais. Como uma Alice através do espelho, silenciosa, Cris observa, escuta e vivencia um mundo do qual apenas havia ouvido falar – provavelmente de forma desatenta – no noticiário na hora do jantar.

Se o caminho percorrido por Cris a leva de volta para casa, as transformações operadas em seu interior, estas, já não têm volta. E a resposta da menina ao avô – que defende o desalojamento de trabalhadores sem-terra – vem ligeira, como se dirigida também ao espectador: “Se visse como essa gente vive, o senhor não falaria dessa maneira”.

http://youtu.be/HMwCKU8SdiQ

NOTA: 9,5/10
ESTREIA: 07/03

Eles voltam – 95 min.
Brasil – 2012
Direção: Marcelo Lordello
Roteiro: Marcelo Lordello
Elenco: Maria Luiza Tavares, Georgio Kokkosi, Elayne de Moura, Mauricéia Conceição, Jéssica Gomes de Brito, Clara Oliveira, Germano Haiut, Teresa Costa Rêgo, Irma Brown

A Visita Cruel do Tempo [Jennifer Egan]

Intrínseca 5 de março de 2014 Aline T.K.M. 13 comentários


Com o lançamento de mais um livro da americana Jennifer Egan por aqui, resolvi que agora era a vez de ler aquele meu exemplar intocado de A Visita Cruel do Tempo, comprado na Bienal de 2012. E não me arrependi; inclusive, acredito que li em um bom momento.

Aquele esquema de variados personagens que, em algum momento de suas vidas, se conectam uns aos outros aparece em A Visita Cruel do Tempo, primeiro livro de Egan editado no Brasil. Pessoas tão diferentes quanto podem ser...
Bennie Salazar, empresário da indústria musical, que descobriu os Conduits;
Sasha, assistente cleptomaníaca de Bennie e dona de um passado um tanto obscuro;
Lou, produtor musical viciado em cocaína, cuja vida é marcada por festas e garotas bonitas em sua mansão;
Dolly, assessora de imprensa que, ao ter sua carreira destruída, encontrou como única solução para seus problemas financeiros ser assessora de um general ditador;
Lulu, filha de Dolly, que desde criança tem a habilidade de influenciar as coleguinhas;
Jules Jones, repórter de celebridades preso por atacar uma jovem atriz;
Scotty, um cara simples que toca slide guitar, amigo de Bennie na adolescência.

De fins da década de 70 a um futuro não muito distante (por volta de 2030), vemos estes e outros personagens em ação e interação, em capítulos que intercalam diferentes momentos de suas vidas. Quase como um personagem adicional, o tempo é onipresente e implacável. Também toca as vidas dos personagens, provocando efeitos que podem ser tanto devastadores como reparadores.

A falta de linearidade temporal é característica marcante no livro. Na prática, a sensação que se tem é a de, literalmente, não perceber a passagem do tempo. Eventos e pessoas vão e vêm sem uma coreografia definida, tal como a nossa própria memória faz pipocar lembranças a esmo. Em algum momento, tudo parece fazer sentido. Mas não nos enganemos: à espreita, o tempo sempre prova que tudo é inevitavelmente volúvel e passageiro.

O passar do tempo traz um pessimismo palpável à narrativa. A juventude que se esvai; a ausência do puro, do casto; a quase total manipulação através da tecnologia; a música “de verdade” em vias de extinção.

As referências musicais são muitas, fazendo das páginas um agrado a mais para os fãs de rock. Mas é sobre as pausas no meio das canções que se fala insistentemente em determinado momento da trama. E não é à toa: elas talvez sejam a representação mais próxima que se tem da percepção da passagem do tempo – e de um desejo inconsciente de detê-la.

Por coisa de um segundo e meio – às vezes mais, às vezes menos –, o ouvinte fica como que suspenso em uma bolha, a se perguntar se a música acabou de repente ou se os instrumentos recuperarão o vigor num estrondo ainda mais avassalador, rumo ao grand finale.

No fim das contas, a inevitável expectativa do que vem a seguir é a prova cabal de que só existem duas alternativas possíveis: ou o tempo continua a seguir seu curso veloz, ou aquele é, de fato, o fim.

LEIA PORQUE...
A Visita Cruel do Tempo é a degradação, a resiliência e a abdicação, misturadas e remexidas no imenso caldeirão da vida real. Tudo devidamente temperado com uma narrativa viciante e impecável.

DA EXPERIÊNCIA...
O pessimismo, tal como adoro, embrulhado para presente.

FEZ PENSAR EM...
“Time is passing” – The Who:

http://youtu.be/2pe7VYpUvIU

Título: A Visita Cruel do Tempo
Título original: A Visit From the Goon Squad
Autor(a): Jennifer Egan
Tradução: Fernanda Abreu
Editora: Intrínseca
Edição: 2012
Ano da obra: 2010
Páginas: 336
Onde comprar: Submarino | Americanas.com | Livraria Cultura | Livraria Cultura (e-book)

Quote da quinzena #3

Literatura norte-americana 1 de março de 2014 Aline T.K.M. 12 comentários

Segredos. Como pequenos sapos escondidos em seu bolso. Não se pode esquecer deles porque estão sempre se mexendo ali dentro, contorcendo-se, tentando escapar. Você sabe que, a qualquer momento, um deles pode conseguir subir e pular para fora do seu bolso, revelando-se para o mundo com um coaxado estridente. E quanto mais você se esforça para tentar contê-los, para tentar escondê-los, mais se esforçam para escapar.

Um Mundo Brilhante, de T. Greenwood.



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